A modelo de meias coloridas: "Eu uso a moda para lutar por pessoas com linfedema."

Um vestido curto combinado com meias-calças longas, de um tom fúcsia chamativo. Não qualquer meia, mas meias de compressão, que ela usa como uma segunda pele há 15 anos, desde que descobriu, ainda muito jovem, linfedema secundário na perna direita: uma doença crônica e progressiva do sistema linfático, que se manifesta como inchaço persistente, mais frequentemente nos membros, causando problemas físicos e estéticos. Anna Maisetti , de 37 anos, natural de Angolo Terme, na província de Brescia, modelo nada convencional e comprometida com a advocacia e fundadora do @stile_compresso (uma comunidade do Instagram dedicada à condição da qual ela sofre), usou este look ontem, 4 de setembro, na Escadaria Espanhola, na Piazza di Spagna, em Roma.
A ocasião estava ligada à sua participação na iniciativa "Leg health goes with fashion": um evento de conscientização, moda e informação sobre a saúde das pernas, parte do V-Itália 2025, a cúpula científica global sobre doenças veno-linfáticas, realizada este ano na capital. A própria Anna abriu o desfile. Depois de passar por um longo período de intensa vergonha por sua deficiência, ela quis enviar uma forte mensagem de inclusão, exibindo meias elásticas como símbolo de empoderamento e estilo.
Vivendo sempre comprimido“Por oito anos, vivi o linfedema como uma limitação, convencida de que me afastaria do mundo da moda com que sonhava”, diz Anna, lembrando-se de como desenvolveu a doença após passar por uma cirurgia para remoção de um tumor de pele e linfonodos inguinais. “Minha perna inchava constantemente, como se não me pertencesse mais, como se tivesse vontade própria. Minha vida era comprimida entre meias elásticas durante o dia e bandagens multicamadas à noite. Minha perna era tão volumosa que eu não conseguia mais usar calças ou calçar os pés. Tive que adaptar meu guarda-roupa, reinventar a maneira de me vestir. Além disso, durante os anos em que estive doente”, continua ela, “a condição era desconhecida até mesmo por muitos profissionais, e era muito difícil encontrar especialistas e auxiliares adequados. Muito tempo se passou até que eu encontrasse a meia certa, e durante esse tempo gastei muito dinheiro, cerca de 20.000 euros.”
Não sinta mais vergonhaEntão, após períodos de depressão profunda, Anna percebeu que precisava reagir de alguma forma e que poderia ser ela a mudar as coisas, através do mundo da moda que tanto a fascinava. Ela começou a exibir com orgulho suas meias-calças de suporte, quando elas eram vistas como algo a ser escondido.
Comecei a compartilhar minha experiência com um toque de humor criando uma página no Instagram, compartilhando looks coloridos, combinando meias com sapatos, bolsas e acessórios, inspirando meus seguidores na comunidade a fazerem o mesmo e participando de grandes eventos de moda, como a Semana de Moda de Milão. E não só isso: Anna tentou se informar o máximo possível sobre todos os aspectos de sua condição, para entender a melhor forma de lidar com ela. Sua comunidade cresceu, tornando-se um espaço digital para dicas de estilo, compartilhamento de experiências e informações práticas úteis.
As dificuldades a enfrentarComo parte da Cúpula Global V-Itália 2025, Anna, convidada para palestrar em dois eventos institucionais realizados no Senado e no Ministério do Interior, destacou os desafios enfrentados por quem convive com linfedema diariamente. Um desses desafios diz respeito ao acesso a meias de compressão: um auxílio indispensável, assim como medicamentos, para quem sofre dessa doença, que frequentemente exige vestimentas personalizadas, resultando em custos significativos.
"Basta considerar", ela enfatiza, "que uma meia feita sob medida pode custar entre € 1.500 e € 1.800 e precisa ser trocada a cada seis meses, dificultando o acesso de todos à qualidade e à quantidade necessárias. Em algumas regiões, esses acessórios podem ser acessados pelo sistema nacional de saúde, mas o processo burocrático nem sempre é claro. Além disso, ela acrescenta, os centros com médicos e equipe especializados ainda são raros, e muitos pacientes têm dificuldade até mesmo em encontrar médicos com a expertise necessária."
Na Itália, 40.000 novos casos por anoDe acordo com o Observatório de Doenças Raras, estima-se que aproximadamente 350.000 pessoas na Itália sofram de linfedema, com uma incidência de aproximadamente 40.000 novos casos a cada ano. A condição — que se manifesta com um acúmulo anormal de linfa nos tecidos — pode ser primária, devido a uma malformação congênita ou desenvolvimento anormal dos vasos linfáticos, ou secundária, resultante de cirurgia, radioterapia, trauma ou infecções que danificam o sistema linfático. Os principais sintomas incluem inchaço, peso, dor, rigidez, aumento do risco de infecção e dificuldades de mobilidade. Não há cura, mas a condição pode ser controlada com tratamentos direcionados, como terapia descongestionante complexa, drenagem linfática manual, bandagens, meias e órteses de compressão, dispositivos pneumáticos, exercícios e nutrição direcionados e, em alguns casos, cirurgia.
A importância da conscientização e de uma maior inclusão"Apesar dos números", conclui Anna, "a condição continua pouco conhecida e reconhecida. É por isso que eventos internacionais de alto nível como 'Leg Health Goes with Fashion' — que transformou a Escadaria Espanhola em um verdadeiro espaço educativo e informativo, envolvendo médicos e representantes de sociedades científicas de 80 países ao redor do mundo, pacientes, modelos não convencionais e pessoas comuns — são cruciais. Não apenas para chamar a atenção global para a saúde das pernas, mas também para promover inclusão, conscientização e prevenção."
La Repubblica